A convenção do PSDB para referendar a candidatura de José Luiz Datena para a Prefeitura de São Paulo, neste sábado (27), foi marcada por confronto de militantes contrários ao nome do apresentador e favoráveis a uma aliança com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição. A ala dissidente é liderada pelo ex-presidente municipal do partido Fernando Alfredo, que foi deposto do cargo pela executiva nacional do PSDB.

Os manifestantes usavam buzinas e apitos e gritavam “democracia”, ao forçar a passagem por bloqueios de segurança montados por seguranças na Assembleia Legislativa de São Paulo. Os dissidentes foram impedidos de entrar na sala onde Datena discursou.

“Um bando de vendidos a esse prefeito de São Paulo que está borrando as calças com medo de chegarmos pelo caminho democrático à Prefeitura de São Paulo. Devolver ao PSDB de Fernando Henrique, de Franco Montoro, de Bruno Covas, de Mário Covas, de tantas pessoas importantes. Isso é baderna, não é democracia”, afirmou Datena, em sua primeira fala no evento.  Os militantes contrários chegaram de camisetas pretas, com as frases “respeitem a nossa história” (na frente) e “militância tucana” (atrás).

O ex-senador José Aníbal, confirmado para a vice na chapa tucana, disse que medidas legais serão tomadas contra os militantes.

Disputa interna

A federação PSDB-Cidadania havia homologado antecipadamente, já na manhã de sexta-feira (26), a candidatura Datena à prefeitura de São Paulo. Para evitar o clima de disputa interna no partido.

Os representantes tucanos aprovaram Datena por unanimidade. A decisão, segundo o PSDB, não pode ser contestada, já que está baseada no estatuto e na resolução da federação, que estabelece que a aprovação da escolha de candidatos em cidades com mais de 200 mil eleitores deve ser submetida ao colegiado nacional.

Na quinta-feira (25), Fernando Alfredo havia protocolado um pedido para participar como pré-candidato a prefeito na convenção. A ideia era de disputar prévias com Datena, já que, segundo o ex-dirigiente, o apresentador nunca se reuniu com a militância ou em um diretório regional e “cada dia que passa tem dado indícios de que vai desistir”.

“Ele não terá tranquilidade”, diz o ex-presidente do diretório municipal.

Sinais de Datena

Na segunda-feira (22), o apresentador afirmou à Folha de S. Paulo que poderia desistir da candidatura, assim como o presidente norte-americano Joe Biden.

“Se continuar essa sacanagem de que o partido está conversando com outras pessoas para colocar dentro do partido sem me avisar, eu não vou ser candidato. Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso? Desde o começo, falei: se me sacanearam, eu desisto mesmo”, disse Datena.

A desistência não seria novidade na trajetória política de Datena. De 2016 para cá ele abandonou a candidatura em outras quatro ocasiões. Em 2016, Datena teve uma pré-candidatura à prefeitura de São Paulo lançada pelo PP, mas desistiu sob a alegação de que o partido foi implicado em denúncias de corrupção pela Operação Lava Jato. Dois anos depois, não seguiu em frente com uma candidatura a senador pelo extinto Democratas.

Em 2020, afirmou que seria candidato a vice-prefeito de São Paulo na vitoriosa chapa de Bruno Covas (PSDB), morto em 2021, mas abriu mão a pedido da TV Bandeirantes. Nas últimas eleições, em 2022, era pré-candidato ao Senado no estado pelo PSC. Indefinições quanto à composição da chapa estadual minaram a empreitada.