Conhecida como “dama do tráfico amazonense”, Luciane Farias, mulher de Clemilson dos Santos Farias, um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, disse que se tornou alvo de ofensas nas redes sociais desde que foi a Brasília e pediu ajuda ao governo federal.
Luciane preside a ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas), que afirma atuar na defesa dos familiares de pessoas presas. No começo do mês, ela participou de um evento sobre prevenção e combate à tortura, custeado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Luciane disse que está sendo tratada como criminosa por pessoas que não acreditam na pauta que ela defende. “As pessoas que não levantam a bandeira para essa pauta me atacam em redes sociais, e isso me afeta mentalmente.”
Segundo Luciane, o apelido de “dama do tráfico amazonense” foi atribuído a ela nos últimos dias e causou um “dano irreversível”.
A mulher do líder do CV no Amazonas fez um apelo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e para a primeira-dama, Janja Lula da Silva, para a que as políticas de proteção a defensores de direitos humanos seja reforçada.
“Quero sensibilizar nosso presidente, que passou pelo sistema, a Janja que já visitou [unidades prisionais]. Talvez eles não tenham passado por tantas mazelas, porque o status é diferente. Queria que olhassem para a gente, ativistas de direitos humanos, e criassem protocolos para nos proteger”, pediu. “Queria que olhassem para mim como a esposa de uma pessoa que errou, mas não como uma criminosa”, completou.
Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas”, foi condenado por lavagem de dinheiro, associação ao tráfico e organização criminosa, e cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM). Já Luciane afirmou ter sido investigada por associação ao tráfico, mas absolvida em 1ª instância.
“Sou cidadã, sou brasileira, estava na casa do povo. Tenho documento para comprovar que não sou condenada. Vou ter que andar com esses papéis embaixo dos braços?”, perguntou.
ENTENDA O CASO
Presidente da ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas), Luciane é casada com Clemilson dos Santos, apelidado de “Tio Patinhas”, que era o procurado “número 1” da polícia do Amazonas até ser preso em dezembro de 2022. Ele foi condenado por lavagem de dinheiro, associação ao tráfico e organização criminosa, e cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM).
Luciane se encontrou com 2 secretários do Ministério da Justiça, comandado por Flavio Dino, em março e em maio de 2023. As reuniões foram divulgadas primeiramente pelo jornal O Estado de S. Paulo. Segundo o veículo, Luciane é integrante da facção criminosa Comando Vermelho. Ela, no entanto, nega a acusação. Afirmou que foi investigada por associação ao tráfico, mas absolvida em 1ª instância.
“Não ficou comprovado que eu fazia parte de organização criminosa. Não sou faccionada, sou esposa do Clemilson. Meu esposo está preso, pagando pelo erro dele. Nunca levantei bandeira defendendo o crime. Mas defendo a Constituição”, disse.
Segundo Luciane, ela nunca se encontrou com Dino e não informou ser casada com Clemilson em suas visitas ao ministério.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou ser “impossível” que o setor de inteligência do ministério a identificasse por ela ter participado dos encontros junto a uma comitiva. A presença não foi registrada nas agendas oficiais.
Depois que os encontros vieram a público, o órgão também acrescentou 3 novos itens às regras de acesso à sua sede em Brasília. Os novos itens determinam que:
O nome e o CPF de todos os participantes e acompanhantes do pedido de reunião ou audiência sejam formalizados por meio de um e-mail institucional com antecedência de 48 horas;
Seja encaminhado, via e-mail institucional, o pedido de compromisso público para que a marcação seja avaliada;
Interessados em uma audiência sem agendamento prévio serão encaminhados à recepção do Palácio da Justiça para serem identificados e orientados.