No sábado, 29 de junho, comemorou-se o Dia do Dublador, e os profissionais brasileiros destacam os desafios da profissão. Apesar da excelência reconhecida internacionalmente, muitos ainda enfrentam baixo reconhecimento no Brasil. Marco Ribeiro, famoso pela voz do Woody em Toy Story, reforça a necessidade de maior valorização: “Ainda existem casos em que a dublagem brasileira, mesmo sendo uma das melhores do mundo, não recebe o reconhecimento merecido.”
Os dubladores, que conferem vida e identidade a personagens com interpretações vocais distintas, sofrem com a falta de regulamentação da profissão. Fernanda Barone, voz de personagens em séries como X-Men: Evolution e Digimon, comenta sobre a precariedade do trabalho autônomo. “O fato de ser autônomo e depender da quantidade de trabalho executada para saber quanto vai ganhar naquele mês é uma grande dificuldade. Em alguns países, há regimes de trabalho especiais para profissionais das artes. Seria lindo ter isso no Brasil também”, disse.
Mário Jorge, reconhecido por dublar Eddie Murphy, reflete sobre a evolução tecnológica que facilita o trabalho atual: “Hoje, tecnologicamente falando, é tudo mais fácil. Antes era tudo muito difícil, era magnético, o filme passava em looping. Agora, a gente aproveita tudo que é gravado.” Contudo, a rápida ascensão da inteligência artificial também traz preocupações. Fernanda Barone destaca a necessidade de regulamentar essa ferramenta para que não substitua os dubladores: “O resultado final da I.A é vazio, sem vida, sem alma, sem aquilo que é o básico em um produto cultural: o humano.”
Neste ano, os dubladores brasileiros lançaram um movimento para regulamentar o uso da inteligência artificial em produções audiovisuais, defendendo que a tecnologia seja apenas uma ferramenta auxiliar, como no manifesto da campanha Dublagem Viva: “Nosso interesse não é proibir nenhuma evolução tecnológica, queremos apenas garantir que o que é apenas uma ferramenta de criação não passe a ser entendido como o nosso criador.”
Ator pode dublar — influencer, não
Outro ponto de debate é o uso de influenciadores e celebridades na dublagem de filmes e séries. Os profissionais da área são unânimes ao afirmar que a dublagem deve ser feita por atores capacitados. Fernanda Barone opina: “Acho totalmente desnecessário e prejudicial ao filme chamar um influencer se ele não for um ator profissional. Temos produções com star talents [termo usado na indústria de dublagem para se referir a uma pessoa de fora da dublagem, mas do meio artístico] que tiveram resultados muitos bons, e não vejo isso como uma ameaça ao trabalho dos dubladores pois essas escalações fazem parte do marketing da produção.”
Mário Jorge concorda: “Como a própria lei diz, para você ser dublador você tem que ser ator. Sendo ator ou atriz, para mim não tem nenhum problema. Se vai dublar bem ou mal, é uma autoavaliação dele mesmo.” Marcos Ribeiro complementa, destacando a importância da capacitação: “O que realmente importa é que essas pessoas sejam capacitadas e experientes para realizar esse trabalho e consigam entregar uma boa dublagem, evitando que um mau trabalho difame a categoria. Por isso, faço questão de enfatizar que as pessoas prestigiem a boa dublagem, aquela que tem alma e marca a vida das pessoas.”
Com informações: Metrópoles