Embaixadas dos EUA e da China travam embate público com o Brasil no centro da disputa
Política

Embaixadas dos EUA e da China travam embate público com o Brasil no centro da disputa

08/08/2025 | 13:24 Por Redação MZ

Em meio a um cenário de instabilidade internacional marcado por medidas protecionistas dos Estados Unidos e tensões políticas internas no Brasil, uma disputa diplomática ganhou visibilidade nas redes sociais nesta semana. O país sul-americano se tornou o pivô de um embate entre as embaixadas norte-americana e chinesa, que usaram suas plataformas digitais para expressar posições divergentes — com críticas diretas ao Judiciário brasileiro por parte dos EUA e elogios aos produtos nacionais por parte da China.

Na quinta-feira (7), a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil fez uma publicação contundente no X (antigo Twitter), acusando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de ser o “principal arquiteto” de uma suposta censura, perseguição política e violações de direitos humanos no país. A representação diplomática afirmou que está “monitorando a situação de perto” e chegou a fazer uma ameaça velada a integrantes do Judiciário. “Os aliados de Moraes no Judiciário e em outras esferas estão avisados para não apoiar nem facilitar a conduta de Moraes”, escreveu o perfil oficial.

As declarações acirraram a crise diplomática e levaram o Ministério das Relações Exteriores do Brasil a considerar a convocação do embaixador norte-americano, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos.

As críticas da embaixada norte-americana ocorrem em meio às sanções impostas pelos Estados Unidos contra Moraes, com base na chamada Lei Magnitsky — dispositivo que prevê punições a indivíduos acusados de graves violações de direitos humanos. Além dele, outros sete ministros do STF tiveram seus vistos suspensos recentemente. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, reforçou a medida em suas redes sociais, afirmando que “as togas judiciais não podem proteger violadores de direitos humanos”.

No mesmo tom, o vice-secretário de Estado, Christopher Landau, foi ainda mais direto ao comparar Moraes a figuras autoritárias descritas na obra do escritor George Orwell. “Moraes tem impulsos orwellianos”, escreveu na última terça-feira (5), intensificando a ofensiva diplomática contra o magistrado.

Em contraste, a Embaixada da China no Brasil adotou um tom positivo e cordial em suas publicações. Também no X, a representação chinesa exaltou diversos produtos brasileiros, sugerindo que a China está aberta a intensificar as relações comerciais com o Brasil. O açaí, por exemplo, foi descrito como uma “superfruta amazônica” que “conquistou paladares” chineses. Já o café e o gergelim brasileiros — que passaram a ser alvo de tarifas adicionais nos EUA a partir desta semana — foram celebrados como bem-vindos no mercado chinês.

“O queridíssimo café brasileiro” e o açaí ganharam destaque nas publicações, refletindo uma aproximação comercial entre os dois países em contraposição às recentes barreiras comerciais impostas por Washington.

As ações das embaixadas ocorrem também em um momento delicado da política brasileira. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de um decreto de prisão domiciliar, decisão que acentuou o clima de polarização no país e ampliou as tensões institucionais entre Poder Judiciário e aliados do ex-mandatário. O cenário revela não apenas a crescente politização da diplomacia, mas também uma disputa geopolítica em que Brasil, com sua posição estratégica, torna-se palco de uma nova batalha de narrativas entre China e Estados Unidos — desta vez, nas redes sociais.