Inflação seguirá acima da meta até 2027, aponta Banco Central
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Inflação seguirá acima da meta até 2027, aponta Banco Central

25/09/2025 | 13:16 Por Redação MZ

O Banco Central (BC) alertou, nesta quinta-feira (25), que a inflação oficial medida pelo IPCA deve continuar acima do centro da meta por, pelo menos, três anos. Segundo o Relatório de Política Monetária do terceiro trimestre, a estimativa para 2025 caiu de 4,9% para 4,8%, mas ainda supera o teto da meta, que é de 4,5%. Para 2026, a previsão é de 3,6%; e, para 2027, de 3,2%. Todas as projeções estão acima do centro da meta de 3%, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

 

Na prática, isso significa que o Brasil enfrentará um período prolongado de inflação persistentemente elevada, mesmo com a taxa básica de juros (Selic) mantida em 15% ao ano — o maior nível desde 2006. A autoridade monetária indica que os juros devem continuar nesse patamar “por um período bastante prolongado”, como forma de tentar ancorar as expectativas e forçar a inflação a convergir para a meta nos próximos anos.

 

O cenário contrasta com o discurso do governo, que tem defendido a redução dos juros para estimular o crescimento. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou recentemente que a Selic “nem deveria estar em 15%”, e argumenta que já há espaço para cortes. A divergência entre BC e Fazenda se intensifica à medida que os indicadores de atividade e arrecadação mostram sinais de desaceleração, em parte provocada pela própria política monetária restritiva.

 

Carta à Fazenda explica descumprimento da meta

 

No relatório, o BC reconhece que a inflação acumulada em 12 meses até junho de 2025 ficou acima do limite da meta e, por isso, enviou uma carta formal ao Ministério da Fazenda — conforme exige o regime de metas. No documento, o Banco Central apontou quatro fatores principais para o descumprimento: alta do câmbio, aumento dos custos de energia elétrica, aquecimento da atividade econômica e efeitos climáticos adversos, como estiagens e excesso de chuvas em regiões produtoras.

 

Apesar da atividade aquecida, o BC afirma que o chamado “hiato do produto” — medida da diferença entre o PIB observado e o potencial — segue positivo, o que pode continuar a exercer pressão sobre os preços, especialmente em setores com demanda resiliente.

 

Perspectivas e riscos

 

O relatório também indica que, mesmo com a inflação em queda na margem, o processo de desinflação está mais lento do que o esperado. A projeção para o IPCA no primeiro trimestre de 2028 é de 3,1%, ainda acima da meta. Entre os riscos monitorados pela autoridade monetária estão novos choques climáticos, volatilidade do câmbio, impactos fiscais de curto prazo e o ritmo da economia global.

 

Com isso, o BC reforça sua estratégia de cautela, deixando claro que a convergência da inflação à meta será gradual e dependerá da manutenção de uma política monetária rígida, apesar dos custos para o crescimento econômico.

 

Consequências políticas e fiscais

 

A persistência da inflação acima da meta também pressiona o governo federal, que projetava cenário mais benigno nos próximos anos. No projeto de lei orçamentária para 2026, a equipe econômica estimava crescimento do PIB de 2,44% e inflação controlada. Com a nova previsão do BC (crescimento de apenas 1,5% em 2026), a arrecadação pode ficar abaixo do esperado, dificultando o cumprimento da meta fiscal e obrigando o governo a cortar gastos em pleno ano eleitoral.

 

A inflação elevada, somada aos juros altos, também deve impactar o consumo, os investimentos e o acesso ao crédito, que já dá sinais de desaceleração. Segundo o BC, o crescimento real do crédito deve cair para 3,8% em 2025 e 4,2% em 2026 — abaixo dos 6,4% registrados em 2024.

 

Em um cenário de inflação resistente e crescimento fraco, o desafio do Banco Central será conter os preços sem sufocar ainda mais a economia — enquanto o governo busca equilibrar suas metas fiscais e políticas.