Após três décadas atrás das grades, Dominique Cristina Scharf, de 65 anos, deixou a Penitenciária Feminina I de Tremembé, no interior de São Paulo. Conhecida nos meios policiais como “a maior estelionatária do Brasil” e apelidada de “Dama do Cárcere”, ela teve progressão para o regime aberto concedida pela Justiça no fim de junho de 2025.
Ao longo de sua trajetória criminal, Dominique acumulou 44 processos, incluindo recursos, no Tribunal de Justiça de São Paulo e no Superior Tribunal de Justiça. Em 2016, o Departamento de Execuções Criminais calculou sua pena total em 57 anos, 11 meses e 10 dias de prisão.
Na penitenciária, conviveu com presas de grande repercussão nacional, como Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga, mas afirmava não ter afinidade com crimes violentos. “Nunca matei uma mosca”, dizia, bordão que virou uma marca entre as detentas.
Nascida em 1960, filha de pai americano e mãe alemã, Dominique teve uma infância em escolas da elite paulistana. Seus crimes começaram ainda jovem, com furtos em lojas e butiques. Com o tempo, passaram a envolver fraudes financeiras complexas, falsificação de documentos, venda de joias falsas e golpes conhecidos como “do amor”, em que seduzia homens ricos e casados para depois extorqui-los com fotos íntimas.
Além das fraudes, foi acusada de integrar uma quadrilha que roubava carros em São Paulo e os enviava para o Paraguai. Em 2003, foi denunciada por tentativa de homicídio após um assalto armado contra um vendedor de joias. Foi condenada a 12 anos de prisão em júri popular.
A ficha criminal de Dominique inclui ainda duas fugas de unidades prisionais. A mais notória aconteceu em 2007, em Ribeirão Preto, quando escalou uma muralha de seis metros com a ajuda de um pé de maracujá. A fuga terminou com a criminosa quebrando uma perna ao saltar para fora da prisão.
Mesmo com pedidos de progressão negados diversas vezes — muitos deles baseados em sua reincidência criminal e mau comportamento no cumprimento da pena —, Dominique persistiu na luta jurídica. Em 2020, durante a pandemia, tentou obter prisão domiciliar por conta da idade, mas não teve sucesso.
Somente em 2025 a Justiça autorizou sua transferência para o regime aberto, impondo condições como recolhimento noturno, comparecimento periódico à Justiça, proibição de deixar a comarca sem autorização e obrigatoriedade de trabalho ou estudo.
Durante o período em Tremembé, ela se dedicou a trabalhos de costura e tricô, habilidades que desenvolveu ao longo dos anos como forma de ocupação e renda dentro do presídio. A defesa de Dominique não foi localizada para comentar a saída da detenta.
Com um histórico de golpes sofisticados e múltiplas passagens pela Justiça, Dominique Scharf entra agora em uma nova fase da vida, fora das muralhas que a cercaram por mais de metade de sua existência.