Hamas reprime rivais e tenta reafirmar controle em Gaza após cessar-fogo
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Hamas reprime rivais e tenta reafirmar controle em Gaza após cessar-fogo

14/10/2025 | 09:57 Por Redação MZ

 

Enfraquecido após meses de intensos bombardeios israelenses, o Hamas tem intensificado sua presença nas ruas da Faixa de Gaza desde o início do cessar-fogo na última sexta-feira. O grupo islâmico lançou uma repressão violenta contra rivais internos, matando ao menos 33 pessoas em ações que, segundo fontes de segurança, visam restabelecer sua autoridade no enclave devastado.

 

De acordo com oficiais de segurança locais, a maioria das mortes ocorreu na Cidade de Gaza, onde membros das Brigadas Qassam — braço armado do Hamas — enfrentaram uma suposta gangue afiliada a um influente clã local. Pelo menos seis combatentes do Hamas também morreram nos confrontos. As autoridades não identificaram o grupo rival, mas moradores indicam que os confrontos estão ligados à crescente disputa de poder com clãs tradicionais, como o Doghmosh, com os quais o Hamas mantém uma relação histórica de tensão.

 

Imagens que circulam nas redes sociais mostram homens armados e mascarados, alguns com bandanas verdes típicas do Hamas, executando sete homens em via pública. Os civis ao redor aclamam “Allah Akbar” (Deus é grande) e chamam os mortos de “colaboradores”. A autenticidade do vídeo ainda não foi verificada, e o Hamas não se pronunciou oficialmente sobre o caso.

 

No mês passado, o grupo havia executado três palestinos acusados de colaborar com Israel. Um vídeo das execuções foi amplamente divulgado online, reforçando as críticas internacionais sobre a atuação do Hamas como força de segurança.

 

Aprovação temporária dos EUA

 

Apesar das ações controversas, os Estados Unidos parecem ter concedido ao Hamas uma aprovação temporária para exercer o papel de policiamento em Gaza durante o período de transição. Em declaração a caminho do Oriente Médio, o presidente norte-americano Donald Trump afirmou:

 

“Eles realmente querem acabar com os problemas e têm sido abertos quanto a isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”.

 

O plano norte-americano para Gaza prevê a saída do Hamas do poder e a formação de um comitê palestino sob supervisão internacional, com o objetivo de estabelecer uma administração civil e desmilitarizada. No entanto, líderes do Hamas têm resistido a entregar seu arsenal, afirmando que as armas só serão entregues a um futuro Estado palestino.

 

Ismail Al-Thawabta, chefe do escritório de mídia do governo do Hamas, declarou que o grupo não permitirá um vácuo de segurança e continuará mantendo a ordem pública no território.

 

Conflito com clãs e líderes rivais

 

Durante a guerra, marcada pelo ataque inicial do Hamas em 7 de outubro de 2023 e pela retaliação israelense, o grupo islâmico perdeu força militar e política. Com isso, enfrentou desafios internos de grupos armados rivais, em especial os ligados a famílias tradicionais de Gaza.

 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel tem armado clãs rivais ao Hamas, embora sem dar detalhes. Entre os opositores mais proeminentes está Yasser Abu Shabab, baseado em Rafah, no sul de Gaza — área ainda sob controle militar israelense. Fontes próximas ao líder afirmam que seu grupo recrutou centenas de combatentes, oferecendo salários atrativos. O Hamas o acusa de colaborar com Israel, acusação que ele nega.

 

Segundo fontes de segurança em Gaza, forças do Hamas teriam matado o “braço direito” de Abu Shabab recentemente e estariam em busca do próprio líder. Outro opositor, Hussam al-Astal, enviou uma mensagem de vídeo no domingo ironizando o Hamas e afirmando que, após a entrega dos reféns israelenses restantes, o grupo perderá sua relevância na região.

 

Futuro político incerto

 

Enquanto negociações internacionais avançam para definir um novo modelo de governança para Gaza, o Hamas tenta reafirmar seu papel não apenas militar, mas também administrativo. A analista política palestina Reham Owda afirmou que a repressão recente tem o objetivo de desarticular grupos que colaboraram com Israel durante a guerra, mas também representa uma tentativa do Hamas de se apresentar como peça-chave na futura gestão da segurança do enclave — algo que Israel e seus aliados rejeitam.

 

Com o futuro político da Faixa de Gaza ainda indefinido, o cessar-fogo trouxe uma trégua temporária aos combates, mas não aos conflitos internos. A luta pelo controle do território agora se desenrola não apenas entre palestinos e israelenses, mas entre facções palestinas que disputam o poder em meio ao caos deixado pela guerra.