Um novo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revela que a Amazônia Legal enfrenta a maior expansão do crime organizado já registrada. Divulgado nesta quarta-feira (19), o estudo Cartografias da Violência na Amazônia mostra que facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) ampliaram rapidamente sua presença, influenciando hoje 344 municípios — quase o dobro do registrado dois anos atrás.
Segundo o levantamento, 258 cidades já são controladas por uma única facção, enquanto outras 86 vivem conflitos diretos entre grupos criminosos. O CV lidera a expansão: saltou de 128 para 286 municípios desde 2023. O PCC, por sua vez, mantém domínio estratégico em 90 cidades, com foco em rotas aéreas clandestinas e conexões internacionais. A Amazônia Legal é composta por 772 municípios ao longo de nove estados.
A região tornou-se peça-chave na logística do tráfico internacional de drogas, armas, ouro e madeira. As facções passaram a controlar rotas fluviais, aéreas e fronteiriças, com destaque para os rios do Alto Solimões, onde o CV domina seis dos nove municípios da tríplice fronteira Brasil–Peru–Colômbia. Portos como Manaus, Santarém e Barcarena também integram as principais rotas utilizadas para envio de cocaína ao exterior.
Além do avanço territorial, o relatório aponta um aumento expressivo da violência. Em 2024, foram registradas 8.047 mortes violentas intencionais na região. Estados como o Maranhão tiveram alta de 11,5% nas taxas de homicídio, impulsionadas pela disputa entre CV, PCC e Bonde dos 40. O Amapá aparece como o estado mais violento do país.
A presença criminosa também está ligada a invasões em Terras Indígenas e ao avanço de atividades ilegais, como garimpo, grilagem e extração de madeira. Em 2024, a Amazônia contabilizou 1.317 conflitos no campo — maior número em quase uma década — concentrando 60% dos conflitos agrários do Brasil.
O impacto sobre mulheres é outro ponto alarmante. No último ano, 586 mulheres foram assassinadas, taxa 21,8% superior à média nacional. O estudo destaca ainda a violência sexual e o controle exercido por facções sobre a vida de mulheres que vivem em áreas dominadas pelo crime, submetidas a regras rígidas, punições e, em alguns casos, execuções.
A expansão das organizações criminosas confirma a Amazônia como epicentro do narcotráfico nas Américas, com crescimento de 574% nas apreensões de cocaína realizadas pelas polícias locais nos últimos cinco anos. Para os pesquisadores, o avanço do crime revela “uma ausência profunda do Estado e a consolidação de um poder paralelo que redesenha o território amazônico”.





