O ataque ao ex-deputado Deltan Dallagnol feito pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes no fim de semana não foi o primeiro do decano contra pessoas envolvidas com a Operação Lava Jato ou em ações de combate à corrupção. De 2019 até agora, Mendes utilizou as redes sociais pelo menos 20 vezes para divulgar críticas e até xingamentos aos coordenadores da operação. Além de Dallagnol, outro alvo preferencial do ministro é o senador Sérgio Moro.
No fim de semana, Mendes disse que Dallagnol “já pode fundar uma igreja” por ter recebido uma “chuva de Pix”. O ex-procurador recebeu doações de apoiadores após ter sido condenado pela Justiça a ressarcir valores de diárias e passagens aéreas que usou quando trabalhava na operação Lava Jato.
Desde o início da Lava Jato, Gilmar Mendes tem sido inimigo da força-tarefa. O ministro argumenta que a operação cometeu abusos e desrespeitou garantias constitucionais. Ele também critica o que chama de “uso excessivo” da prisão preventiva como forma de pressionar os investigados para colaborarem com as autoridades.
Veja alguns dos principais ataques de Gilmar Mendes desde 2019:
“Um dos legados de Bolsonaro foi devolver Moro para o nada”;
“Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tem o germe do fascismo”;
“Como você vai permitir que essa gente mequetrefe de Curitiba decida pautar as 10 medidas?”, sobre as 10 medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público Federal;
“A criação de heróis e de falsos mitos desenvolveu um ambiente de messianismo e intolerância”;
“Isso não é método de instituição, é método de gângster”, sobre membros da Lava Jato;
“O que se instalou em Curitiba era um grupo de esquadrão da morte, totalmente fora dos parâmetros legais”.
Mendes também questionou a legalidade das delações premiadas, um dos pilares da Lava Jato que permitiu que a investigação alcançasse pessoas poderosas envolvidas em corrupção. Na visão dele, os acordos foram feitos com base em pressões e ameaças, em vez de uma colaboração voluntária.
O ministro também criticou o vazamento de informações e a “politização” das investigações, afirmando que esses elementos comprometem a imparcialidade da operação.
As críticas de Gilmar Mendes à Lava Jato ficaram ainda mais ásperas quando ele passou a questionar a atuação do ex-juiz Sergio Moro. O ministro do STF duvidou da imparcialidade de Moro ao conduzir os processos da operação, especialmente quando ele condenou o petista Luiz Inácio Lula da Silva, na época ex-presidente.
A declaração de Gilmar Mendes de que Deltan poderia abrir uma igreja com o dinheiro recebido de simpatizantes, “uma chuva de Pix” ocorreu no sábado (16) durante uma live na internet organizada pelo Prerrogativas, um grupo de advogados que apoia o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dallagnol respondeu pelo Twitter que considera “triste” um ministro da mais alta corte brasileira chegar a um nível tão baixo. Ele ainda agradeceu aos brasileiros que voltaram a fazer PIX depois da postagem de Gilmar Mendes e disse que “eu prefiro fundar uma igreja que fundar um clube de proteção aos corruptos”.
Fonte: Gazeta do Povo.