O Portal MZ Notícia teve acesso a uma série de cartas escritas por presos da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG), nos Campos Gerais do Paraná. Nos documentos, os internos denunciam situações que, segundo eles, configuram maus-tratos, negligência e violações de direitos humanos dentro da unidade.
Escritas à mão, as cartas revelam um cenário de opressão física, psicológica e estrutural, com apelos por respeito e condições mínimas para o cumprimento das penas.
O que dizem os presos nas cartas
Entre os principais pontos denunciados estão:
- Uso de violência: presos relatam agressões verbais e físicas, além da utilização de gás de pimenta sem justificativa.
- Saúde precária: há casos de internos com HIV, tuberculose, hepatite e câncer sem acompanhamento médico adequado. Os presos afirmam que já houve mortes evitáveis por falta de atendimento.
- Ausência de dentista: não existe atendimento odontológico na unidade.
- Visitas degradantes: os familiares enfrentam locais sem higiene, em banheiros com vasos sanitários quebrados e sem pias, além da limitação de vagas — são 210 presos para apenas 40 espaços de visita.
- Visitas íntimas sem privacidade: ocorrem em locais sem ventilação, com panos no chão, enquanto agentes circulam pelos corredores observando os internos e suas companheiras.
- Falta de assistência social: muitos presos não conseguem contato regular com as famílias, aguardando meses para autorização de cartas.
- Estudo e trabalho limitados: segundo as cartas, a única forma de remição de pena é a faxina, quando a lei prevê outras modalidades, como lavanderia e estudo à distância.
- Procedimentos humilhantes: para ir ao pátio, relatam que precisam retirar todas as roupas. O esporte, por sua vez, não é liberado, ao contrário de outras unidades prisionais.
Em um dos trechos, os presos afirmam:
“Pedimos clemência e não tortura militar. Queremos apenas atenção, pois estamos vivendo em omissão de socorro.”
Outra anotação, escrita em vermelho, denuncia que “o chefe da segurança ameaçou virar a seção caso acionassem os direitos humanos”, o que reforça o clima de medo e intimidação.
Voz da família
Familiares também relatam sofrer com o tratamento recebido durante as visitas e pedem mudanças urgentes. Uma parente desabafou ao MZ Notícia.
“Que acabe a opressão e a humilhação dentro da unidade, tanto com os internos quanto com a família. Eles estão pagando pelo erro que cometeram, mas a agressão sofrida não vai ajudar em nada na ressocialização deles.”
Outra denúncia aponta que, após reclamações externas, a direção teria se defendido alegando que as informações eram falsas e que a denunciante sequer frequentava a unidade, o que, segundo os familiares, é uma tentativa de descredibilizar quem cobra providências.
Pedido de socorro
Nas cartas, os presos frisam que não querem motins nem rebeliões, apenas condições dignas para cumprir suas penas.
“Somos homens, pais de família, queremos ressocialização de verdade. Não conseguimos dialogar com a segurança da unidade”, escreveram.
O Portal MZ Notícia seguirá acompanhando o caso e buscando respostas sobre a situação dentro da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa.
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