Os principais líderes da China estão reunidos nesta semana na capital chinesa para definir as diretrizes políticas e econômicas do país até o fim da década. A reunião plenária do Comitê Central do Partido Comunista Chinês servirá como base para o próximo plano quinquenal, que vai orientar a trajetória da segunda maior economia do mundo entre 2026 e 2030.
Embora o plano completo só deva ser divulgado em 2026, autoridades devem antecipar algumas diretrizes ainda nesta quarta-feira (22). Segundo especialistas, o modelo chinês de planejamento centralizado, guiado por metas de longo prazo em vez de ciclos eleitorais, costuma gerar decisões com impactos profundos na economia global.
“Os planos quinquenais definem o que a China quer alcançar, indicam a direção que a liderança pretende seguir e mobilizam os recursos do Estado para atingir esses objetivos predefinidos”, explica Neil Thomas, pesquisador de política chinesa no Instituto de Políticas da Sociedade Asiática.
Ao longo das últimas décadas, esses planos têm moldado não apenas o futuro da China, mas também transformado setores estratégicos da economia mundial. Três momentos ilustram a força dessa política de planejamento.
Reforma e abertura (1981–1985)
A guinada econômica da China teve início em 1978, quando o então líder Deng Xiaoping rompeu com o modelo comunista rígido do período maoísta e passou a adotar elementos da economia de mercado. A política de “reforma e abertura”, incorporada ao plano quinquenal de 1981, criou zonas econômicas especiais e atraiu investimentos estrangeiros em massa.
Esse movimento não só tirou milhões de chineses da pobreza como também transformou o país na “fábrica do mundo”, ao transferir cadeias produtivas do Ocidente para o território chinês. O fenômeno, apelidado de “choque da China”, impactou diretamente a indústria global e alimentou tensões comerciais, especialmente com os Estados Unidos.
Indústrias estratégicas emergentes (2011–2015)
Na década de 2010, o Partido Comunista passou a mirar um novo desafio: evitar a chamada “armadilha da renda média”. Para isso, lançou mão de um ambicioso plano de modernização tecnológica, investindo em setores como energias renováveis, veículos elétricos e tecnologias verdes.
O plano de 2011 consolidou o país como potência em inovação industrial. Hoje, a China lidera o mercado global de veículos elétricos, domina a cadeia de produção de painéis solares e controla o fornecimento de terras raras – insumos cruciais para a fabricação de chips e dispositivos de inteligência artificial.
Essa posição estratégica provocou reações no Ocidente, com governos como o dos EUA acusando Pequim de tentar usar esses recursos como arma geopolítica.
Desenvolvimento de alta qualidade (2021–2025)
Nos planos mais recentes, sob a liderança de Xi Jinping, o foco passou a ser o “desenvolvimento de alta qualidade”, um conceito que visa colocar a China na vanguarda da inovação tecnológica, mesmo diante de sanções e restrições comerciais impostas por países como os Estados Unidos.
Gigantes como Huawei e o aplicativo TikTok simbolizam essa nova fase, em que o país busca autonomia em setores críticos, como inteligência artificial, chips e computação avançada.
Com as barreiras ao acesso a semicondutores de última geração – como os produzidos pela americana Nvidia –, a China tem intensificado sua busca por autossuficiência tecnológica. Essa estratégia tem sido chamada, desde 2023, de “novas forças produtivas de qualidade”, lema que reforça a ideia de segurança nacional e independência econômica como pilares do novo modelo chinês.
“A segurança nacional e a independência tecnológica são hoje a missão definidora da política econômica da China”, afirma Neil Thomas. “Mais uma vez, isso remete ao projeto nacionalista que sustenta o comunismo chinês, garantindo que o país nunca mais seja dominado por potências estrangeiras.”
O próximo plano quinquenal deve oficializar essa mudança de paradigma, reafirmando o objetivo de consolidar a China como potência global em inovação e tecnologia – em seus próprios termos e sob seus próprios critérios.
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