Ciclo de palestras sobre a cultura do povo negro e quilombola atinge mais de 900 alunos da rede pública de educação nos Campos Gerais
Educação Paraná

Ciclo de palestras sobre a cultura do povo negro e quilombola atinge mais de 900 alunos da rede pública de educação nos Campos Gerais

16/05/2025 | 18:31 Por Redação MZ

Projeto A Glória do Meu Quilombo passou por dez escolas urbanas e do campo em Ivaí, Sapiranga, São João do Triunfo e Porto Amazonas

Compartilhar conhecimento, cultura afro-brasileira, quilombola e popular para além dos livros. Sob este propósito, mais de 900 estudantes da rede pública de educação foram impactadas pelo projeto A Glória do Meu Quilombo – a importância da Carolina Maria de Jesus. Depois de passar por dez escolas nos últimos 30 diasseis urbanas e quatro do campo, o projeto foi concluído superando as projeções desta ação educativa e antirracista.

Agora, o projeto segue reverberando pelas comunidades escolares aos quais passou. Os municípios contemplados foram Ivaí, Ipiranga, São João do Triunfo e Porto Amazonas, nos Campos Gerais do Paraná.

Durante os encontros, sob a ótica afrocentrada, a idealizadora do projeto e multiartista Ligiane Ferreira contou histórias e destacou tradições da negritude, em especial aquelas pertencentes ao Quilombo da Colônia Sutil (Ponta Grossa), onde seu pai, Wilson Ferreira dos Santos, viveu a infância. A artista também traçou um paralelo com a trajetória da escritora, compositora, cantora e poeta, Carolina Maria de Jesus, que assim como o povo quilombola teve a vida atravessada pelo racismo e outras violências sociais.

Ligiane ressalta a importância da força da memória, da identidade e da cultura como ferramentas de transformação social. Para ela, cada encontro realizado nas escolas do Paraná reforçou ainda mais o sentido e a importância deste projeto. “A gente viu a necessidade de abordar o tema nas escolas, de ter um papo reto mesmo com os alunos e a comunidade escolar, falando sobre racismo, falando sobre escritores negros, falando a cultura quilombola. Todos nós da equipe saímos com o coração quentinho, porque a gente se emocionou, a gente falou sério também; porque o tema pede isso”, complementa a artista que ainda avisa: “deu tudo certo e logo a gente está nas escolas novamente, com esse tema aqui em Ponta Grossa”.

Para potencializar o aprendizado dos estudantes secundaristas foram distribuídas 2500 cartilhas com narrativas sobre a origem da Colônia Sutil – Ponta Grossa. A preocupação com a acessibilidade do material, que agora serve como consulta e fonte de pesquisa, fez com que uma versão em braille fosse criada e distribuída nas escolas visitadas. Além disso, o projeto lançou o formato em áudio livro do conteúdo da cartilha educativa, que pode ser acessado, gratuitamente, pelo link https://acesse.one/audiolivrogloriameuquilombo.

Saiba quais foram às escolas visitadas pelo projeto:

DATA DA PALESTRA ESCOLA MUNICÍPIO
15 de abril Escola Estadual do Campo de Lustosa Ipiranga
15 de abril Colégio Estadual Doutor Claudino dos Santos Ipiranga
22 de abril Colégio Estadual Professora Ine Messias Erdmann Ivaí
22 de abril Colégio Estadual Arthur Costa e Silva Ivaí
22 de abril Colégio Estadual Sagrado Coração de Maria Ivaí
29 de abril Colégio Estadual Francisco Neves Filho São João do Triunfo
29 de abril Colégio Estadual do Campo de Vila Palmira São João do Triunfo
29 de abril Colégio Estadual do Campo Professor Argemino Luis de Lima São João do Triunfo
6 de maio Colégio Estadual Cívico Militar Coronel Amazonas Porto Amazonas
6 de maio Colégio Estadual do Olívio Belich Porto Amazonas

A Glória Do Meu Quilombo – A Importância De Carolina Maria De Jesus é um projeto de produção de Ligiane Ferreira e Inspire Projetos Criativos; aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Paraná, com recursos da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura – Governo Federal.

Depoimentos da comunidade escolar

 Após as palestras, a equipe de A Glória do Meu Quilombo recebeu comentários positivos da ação educativa e formativa. Os comentários chegaram pelas redes sociais, e-mail e até durante conversas e registros fotográficos. Em Ivaí, uma estudante secundarista disse o seguinte: “adorei sua palestra sobre seu povo e a história do seu pai. Continuem levando a história de vocês para mais pessoas, foi muito interessante saber mais de história, não sendo contada somente pelos livros”.

            Já para a pedagoga do Colégio Estadual do Campo de Lustosa, a palestra foi importante para a aprendizagem de toda a comunidade escolar, porque são temáticas que estão relacionadas com o cotidiano de todos. “A gente se sente muito grato em conhecer a história do povo quilombola, apesar de estar dentro do nosso planejamento anual, trabalhar com essa cultura, a presença física no colégio nos aproxima muito mais, tanto no entendimento como no reconhecimento dessa cultura”, comenta Dayane Conte.

O inspetor do Colégio, Lucas Ienke Rodrigues, formado em História, acredita que este contato com a cultura e a história de intelectuais negros e negras, é importante para todos e ajudará a minimizar o racismo na região. “Eu, particularmente, passei pela universidade e não tive contato com a história de Carolina Maria de Jesus. Então é ‘algo novo’ que está sendo trazido aqui para dentro do colégio. O pessoal precisa ter essa consciência de que a nossa história não é só o que eles pensam que é, vai além”, disse Lucas

O professor de História também deu seu depoimento: “Meu nome é Aquiles Trindade, sou professor aqui no colégio do interior de São João do Triunfo – Argemino. Talvez a coisa mais importante que nós tivemos depois da palestra é que os alunos perceberam que há um apagamento da história negra no nosso país. E a gente precisa lutar contra isso, nós precisamos resistir, a gente precisa ter mais autores negros no Brasil e nos colégios”.

Sobre a Glória do Meu Quilombo

“A Glória do Meu Quilombo” é um projeto que surge da necessidade de conexão e comunicação com as pessoas negras, com a periferia e as escolas públicas. Também de falar que existe um quilombo com grande importância histórica em Ponta Grossa e no Estado. “A Colônia Sutil é um local de resistência, existência e sabedoria ancestral e é muito necessário saber a história por trás dela”, comenta a filha do seu Wilson Ferreira.

Neste ano de 2025, o diferencial do projeto foi distribuir de 2.500 cartilhas direcionadas aos estudantes da rede pública com idade a partir dos 14 anos, e o acesso ao áudio livro com a sinopse das palestras.

Equipe 100% feminina     

            Uma equipe formada por mulheres de múltiplas etnias e representando várias comunidades sociais e profissionais agregou mais diversidade ao Projeto A Glória do Meu Quilombo – a importância de Carolina Maria de Jesus. Oito mulheres trabalharam juntas para levar a palestra de educação antirracista para dez escolas urbanas e de campo, em quatro municípios dos Campos Gerais (PR).

Para Indianara dos Santos, escritora e assistente de produção, “participar do projeto foi algo muito profundo enquanto pessoa e profissional; a cada página escrita, senti que estávamos construindo algo muito maior do que um material informativo: estávamos registrando parte da história de um povo, de uma família e de uma luta por reconhecimento”.

Da assessoria